sexta-feira, 12 de outubro de 2018

CEV Dão branco 1963

Uma prova inesquecível



Há provas raras, ocasiões especiais, verdadeiros privilégios que por vezes temos na vida. Há muito tempo que ambicionava provar vinhos do Centro de Estudos Vitivinicolas do Dão. Localizado em Nelas, um centro que desde 1946 funciona como um campo experimental para a região, tanto na viticultura, como na enologia, tendo a cargo um acervo de vinhos cheios de história.

Estiveram em prova vinhos dos anos 50, 60, 70, 80 e 90, brancos e tintos, que separarei em duas partes. Começarei pelos brancos, pois foi essa a ordem da prova, tendo-se iniciado pelo ano de 1958, um vinho com uma cor impressionante para um tranquilo com 60 anos de idade, aroma naturalmente evoluído (casca de amêndoa, favo de mel, melado e notas herbais) mas com uma acidez bem vincada, um vinho bem vivo, uma prova que é possível fazer vinhos com muito potencial de envelhecimento (e numa época onde a tecnologia era muito limitada).

O branco de 1963 foi o que mais me impressionou, um vinho com 55 anos que apresenta uma cor levemente dourada, de aroma fino, ainda com alguma frescura, notas herbais, um toque floral a lembrar lichia, de grande complexidade mas com uma extrema elegância. Mineral, leve amargo, seco, mas com uma agradável frescura, um conjunto de grande elegância, completo, evoluído mas bem vivo. Um ano mítico em Portugal, um vinho com uma dimensão invulgar, algo extraordinário.

Seguiram-se os anos de 1974 e de 1995, sendo o 74 um registo mais clássico, um perfil um pouco mais ligeiro, mas sempre com um registo de frescura bem vincado. O 95 foi o ano que considerei menos interessante, com uma acidez menos viva, com menor complexidade e elegância que os anteriores, o que nos deixa a pensar até que ponto algumas das tecnologias mais modernas serão de facto positivas.

Muitas questões foram levantadas durante a prova, muitas discussões cada um destes vinhos poderiam trazer à mesa, pois de facto, está aqui um registo muito relevante que permitirá tirar algumas conclusões, ou, pelo menos, apontar ou confirmar alguns possíveis caminhos. Vinhos antigos feitos com pouca tecnologia, castas misturas em co-fermentação, vinificações com engaço, ausência de controlo de temperatura, etc..., poderão ser o futuro da região? Uma análise que deve ser feita, em tempos que se valoriza a diferenciação e não a massificação. O que não me deixa qualquer dúvida é a importância do trabalho destes Centros de Estudos, que não podem deixar de ter apoio e condições para realizarem o seu trabalho.
Avinhado a 31 de Agosto de 2018
#avinhar

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