O vinho tem de ser complicado?
Um vinho com um terroir único, que
expressa o solo, o clima e as técnicas típicas da região. Um bouquet
fantástico, de grande complexidade e profundidade, misturando compota de fruta
bem madura, tostados de café e notas florais. De cor ruby, quase impenetrável,
com laivos acastanhados resultantes da sua grande evolução em cave, com um
brilho que revela o seu perfeito estado de saúde. É um vinho de grande
frescura, muito encorpado e com a madeira de carvalho francês perfeitamente integrada.
Estruturado, taninos sedosos, de grande amplitude e persistência, num final
muito agradável com fruta madura e ligeira salinidade. Um grande vinho, para
verdadeiros apreciadores!
Se ainda está a ler este texto, ou gosta
muito de vinho ou tem muita coragem. O jargão técnico utilizado por
especialistas tende a afastar alguns dos consumidores menos entendidos, pois frequentemente
não o entende na sua plenitude. Mas tem o vinho de ser complicado?
Julgo que não, e julgo que devemos
complicar na exacta proporção do interesse e envolvimento de cada consumidor. Simplifiquemos.
Podemos simplesmente classificar um vinho como “Gosto” ou “Não Gosto”. Embora
redutor, é interessante, pois permite saber quais os vinhos que nos agradam e
os que não agradam. Mas e se quisermos saber porquê?
Para responder a essa questão devemos
perceber alguns aspectos fundamentais de um vinho, como o corpo, acidez, textura,
doçura ou sabor, entre muitos outros. E se quisermos saber ainda mais, e
perceber o porquê de cada um destes e de outros aspectos? Bem, teremos de nos
tornar entendedores no assunto, e há cursos de vinho no mercado, bem como muita
bibliografia, que nos ajudam a perceber um pouco mais sobre o assunto.
É de facto um mundo complexo, com uma
grande multiplicidade de regiões, castas, solos, exposições, climas e técnicas
de produção, agravadas pelo facto que cada ano é único e diferente. Para agravar
a situação, podemos ainda adicionar todas as questões do acondicionamento, o
que faz com que cada garrafa evolua de forma diferente, dependendo das
condições a que esteve sujeito, como temperatura, variações de temperatura,
luz, humidade, cheiros e posição das garrafas. E ainda há as questões das
temperaturas, dos copos, das harmonizações...
Recomendo que complique na medida do seu
interesse e que, acima de tudo, mantenha uma mente aberta à experimentação de
vinhos diferentes e que se divirta a faze-lo. Experimente uma região do país
que nunca tenha provado, ou uma casta que não conheça, procure vinhos
diferentes e diferenciadores. Atreva-se. É um mundo que pode ser tanto
complicado como divertido.
Avinhado a 22 de Março de 2015.
Luis Gradíssimo
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